Sobre escrever em momentos difíceis
Esse ano de 2019 está sendo intenso. Perdi algumas pessoas próximas a mim, parentes e amigos de amigos também faleceram nesse ano. Várias pessoas famosas morreram. Fiquei pensando se esse é um sinal de que estou ficando velha. Quando a gente é criança a gente não vê tanta gente morrendo, ou então somos bondosamente poupados. Mas a verdade é que a morte é algo, ou talvez a única coisa na vida, que não podemos evitar.

Em alguns desses momentos, escrever foi um baita alívio. Essa “carta” eu escrevi em um momento de angústia por uma perda e aconselho você a fazer o mesmo, caso esteja passando por um momento difícil. Ajudou bastante a me acalmar, refletir e ver o que eu posso aprender e melhorar com o trauma sofrido. Espero que ajude você também.
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A vida é um sopro.
Que frase mais clichê. Mas a gente só sente na pele quando realmente acontece alguma coisa.
Hoje de manhã fiquei sabendo, de repente, que você se foi, também de repente.
Comecei a tremer e logo fiquei perdida, sem saber o que pensar. Até agora não acredito no que aconteceu.
Não parece real.
Porém, agora, além da tristeza, veio também a revolta. A sua ida me deixou de mal com a vida.
A gente se encontrou no Orkut há uns bons anos atrás, uns 15, talvez? Conseguimos nos achar pelo sobrenome em comum que temos. Somos família.
A gente fez coisas juntos, a gente se encontrou várias vezes por acaso, a gente teve os nossos momentos. Mas que não foram, nem de longe, suficientes.
A gente foi vizinho por um bom tempo. Mas não nos víamos com frequência.
Você disse: “que legal, você vai pra Cuba! Nós já fomos! Vamos marcar algo!”.
E de uns tempos pra cá foi assim. Aquele “vamos marcar” que nunca acontece.
E agora não tem mais jeito, porque você foi embora. Precoce, um tapa na cara.
Por que nós somos assim? Tão desleixados, procrastinadores, que não conseguimos arrumar uma noite pra gente sair pra jantar? Mas eu arrumei tempo pra ir no seu velório numa terça feira a tarde. Como somos hipócritas.
A nossa relação hoje se baseia nas redes sociais. Eu acho bizarro, apesar de gostar de ver os seus reposts engraçados no facebook. E, confesso, vou sentir falta de você curtindo minhas fotos, porque eu sentia de alguma forma que estávamos conectados.
A sua ida me causou um mal estar, também pelo choque, mas por pensar que estamos vivendo errado. E agora nem conversar com você sobre isso eu posso mais.
A sua ida fez eu perceber que, não importa quão forte é o nosso laço, a vida vai continuar sendo muito mais frágil. Mas, apesar de eu ter achado que a gente não cuidou muito bem do nosso laço, a primeira coisa que me falaram quando cheguei no seu velório foi: ele gostava tanto de você...
A sua ida vai me fazer repensar muita coisa. E vai deixar muitas saudades também.
Quero lembrar de você com o seu sorriso encantador e seu alto astral.
Não sei quando essa bad trip vai passar, mas eu sei que vai, algum dia.